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quinta-feira, 18 de outubro de 2012

EXPOCATADORES 2012


A EXPOCATADORES 2012, que acontecerá de 28 a 30 de novembro no pavilhão amarelo da ExpoCenter Norte em São Paulo, reunirá especialistas em gestão de resíduos sólidos do Brasil e da América Latina com a tarefa de valorização profissional dos catadores de materiais recicláveis e de fortalecimento de sua ação na cadeia produtiva de recicláveis de forma sustentável e inclusiva.
O evento discutirá temas em torno da qualidade de vida dos trabalhadores envolvidos nesse processo e da destinação correta dos resíduos sólidos erroneamente chamados de lixo.  Dessa forma, ele vem ao encontro de diversas ações do poder público, de empresas e da sociedade e deve agrupar experiências exitosas de todo o Brasil, além de iniciativas da América Latina e de outras regiões do mundo.
Este encontro, contará com o público permanente de 1.500 catadores de 25 estados brasileiros, além de visitantes, com a estimativa de presença de quatro mil pessoas por dia. Haverá, ainda, a participação de delegações de 12 países da América Latina, além da Índia e da África do Sul.
Simultaneamente será realizado o 3º Encontro Nacional e Internacional de Catadores com para intercâmbio de experiências, que pretende repetir o nível de participação de edições anteriores. Os temas, debatidos em seminários técnicos, referem-se a questões sobre a implantação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, o fechamento de lixões e os planos de gestão dos resíduos.
Nesse contexto, a terceira edição da EXPOCADORES almeja que cooperativas e redes de catadores possam ter acesso a cartas de crédito para negociar diretamente com empresas e fazer negócios dentro desse evento. A proposta está sendo construída junto ao Banco de Brasil para a criação de uma linha de crédito específica para as organizações de catadores.
 A Expocatadores 2012 reunirá as empresas produtoras de equipamentos e tecnologia do setor, facilitando o intercâmbio entre os diversos atores do mercado. Essa iniciativa, além de simbólica, tem caráter educativo. As organizações de catadores credenciadas com cartas de crédito passarão por capacitação com técnicos da área financeira para realizar os melhores negócios na feira com bons resultados para os catadores.  A Feira de Negócios cumprirá o papel de estabelecer o contato das organizações de catadores com as empresas e melhorar essa relação. Os catadores terão a oportunidade de conhecer novas as tecnologias e equipamentos para trabalhar adequadamente nas cooperativas, adquirindo informação, refletindo diretamente no trabalho e planejamento dos empreendimentos.
Movimento Nacional de Catadores
Ao longo de 10 anos, o Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) lançou-se num projeto ambicioso: o de alçar o trabalho dos catadores a uma profissão reconhecida e valorizada no Brasil. Até então, como essa ocupação profissional não era reconhecida, o trabalho informal e desordenado era (e é) frequentemente motivo de repressão por parte do poder público, e os trabalhadores vítimas de preconceito da sociedade em geral.
Dez anos atrás, sair de uma situação de miséria extrema e avançar patamares na cadeia produtiva da reciclagem era um sonho considerado utópico. No entanto, hoje o trabalho dos catadores de materiais recicláveis é classificado como ocupação profissional pelo Ministério do Trabalho e Emprego e está inserido definitivamente nas políticas públicas de gestão de resíduos sólidos no Brasil. Basta examinar a Política Nacional de Saneamento (Lei 11.445/07), a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/10) e outras leis e decretos complementares de incentivo fiscal e regulatório.
A categoria dos catadores de materiais recicláveis é hoje uma alternativa estratégica no combate à pobreza extrema e oportunidade de negócio em um mercado promissor resultado das políticas públicas criadas recentemente com a participação do movimento social organizado.
A EXPOCATADORES 2012 é uma realização do Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) e da Associação Nacional de Carroceiros e Catadores de Materiais Recicláveis (ANCAT).
Vendas
Event Planning Solutions
Telefone: (11) 55314455
E-mail: expocatadores@epseventos.com.br

Serviços:
Dia do evento: 28 a 30 de novembro de 2012
Local: Pavilhão Amarelo – Expocenter Norte
Rua Galatéia, 220 São Paulo – SP CEP 02068-000

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

O carrocentrismo na mira da crítica industrial



Ricardo Abramovay
Este artigo foi publicado hoje no site do jornal Folha de São Paulo, no canal sobre Empreendedorismo Social
A condenação do automóvel individual como forma predominante de transporte nas grandes cidades é cada vez mais ampla, incisiva e bem fundamentada. E o mais interessante é que essas críticas começam a tomar corpo no interior da própria indústria. Nos países desenvolvidos, o automóvel é frequentemente comparado ao tabaco, em função de seus efeitos danosos sobre a vida urbana.
É verdade que, em muitos casos, a indústria automobilística empenha-se no uso mais eficiente de energia e de materiais. Mas isso não impede Bill Ford, bisneto do fundador da companhia que leva seu nome, de fazer a constatação fundamental: uma vida urbana melhor é incompatível com o horizonte de que cada família possua dois carros. A Ford tem um plano de mobilidade em três etapas (para um período que vai além de 2025) cujas bases estão, simultaneamente, nos ganhos de eficiência que as tecnologias da informação trarão ao automóvel e, ao mesmo tempo, na perda do poder que ele tem hoje na matriz mundial dos transportes.
A partir de 2025, segundo a empresa, a paisagem dos transportes será outra, com pedestres, bicicletas, veículos individuais e transportes coletivos conectados em rede, com base em poderosos dispositivos digitais.
Da mesma forma que a IBM abandonou a produção de computadores, mas se manteve líder em serviços de informação em rede, a indústria automobilística vai ter que se reinventar.
Foi a mensagem do encontro promovido pela “Audi Urban Future Summit” (Audi) em 2010, no qual personalidades importantes da sociologia mundial como Saskia Sassen e Richard Sennet contribuíram para que fossem colocadas questões decisivas: será que as empresas automobilísticas de hoje produzirão carros no futuro? Isso convém à ambição de melhorar a mobilidade nas grandes cidades?
É verdade que, até aqui, a maior parte do setor tem fechado os olhos a essas perguntas. Um executivo da Volkswagen, diante das cotas de emplacamentoadotadas em grandes cidades chinesas, como reação à poluição e aos engarrafamentos no país, não hesitou em declarar que a empresa se dirigiria ao interior e que isso não prejudicaria a expansão de seus negócios. As perspectivas de ganho por parte da indústria são tão grandes que entre cidades sustentáveise ampliação na frota de automóveis a opção das montadoras deixa, infelizmente, pouca margem a dúvidas.
É muito importante, neste sentido, o documento recente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), fruto do excelente estudo levado adiante pela equipe liderada por Sérgio Magalhães, arquiteto, urbanista, professor da FAU/UFRJ e ex-secretário de Habitação do Estado do Rio de Janeiro.
Na apresentação do trabalho, Robson Braga Andrade, presidente da entidade, afirma: “As cidades brasileiras estão parando”. Os ambientes urbanos são cada vez mais importantes na inovação, no emprego e em uma vida social mais rica e diversificada e, no entanto, as cidades, apesar de seu extraordinário dinamismo, são incapazes de oferecer horizontes promissores à maior parte dos que nelas habitam.
Na raiz do estrangulamento urbano está a maneira como se formou, no Brasil, o vínculo entre habitação e transportes. Em vez de concentrar o crescimento urbano ao longo dos equipamentos de transportes sobre trilhos, predominantes na primeira metade do século 20, as cidades brasileiras adotaram um caminho duplamente perverso.
Por um lado, promoveram formas de ocupação do espaço habitacional que aprofundou o abismo entre periferias, desprovidas de serviços públicos, com baixa densidade populacional e onde é precária a própria presença do Estado e áreas centrais com força econômica, para as quais é preciso deslocar-se diariamente num esforço extremamente penoso e que consome tempo imenso.
Por outro lado, submeteram-se ao império do transporte motorizado e sobre pneus, capaz de chegar justamente a essas áreas distantes, mas desprovidas das infraestruturas elementares de uma vida urbana civilizada.
De todas as habitações construídas no país, 80% não contaram com qualquer tipo de financiamento formal ou assistência pública. O problema desta autoconstrução, como bem coloca o documento da CNI, é que “a família produz o domicílio, mas só o coletivo produz infraestruturas”.
Mesmo que a renda dessas famílias tenha, recentemente aumentado, elas seguem, em sua maioria, distantes dos bens públicos e dos equipamentos coletivos sem os quais dificilmente se pode falar em cidadania. Saneamento precário, transportes de baixa qualidade, dificuldades crescentes com relação à segurança em áreas distantes dos grandes centros, estas são algumas das marcas decisivas das periferias brasileiras.
A elas acrescentam-se os congestionamentos, que comprometem não só a mobilidade dos que têm carros, mas, sobretudo, a dos que dependem desses transportes coletivos de baixa qualidade. Como os congestionamentos são cada vez maiores e atingem número crescente de cidades (e não só as metrópoles), cria-se imensa pressão para que as autoridades resolvam o problema do trânsito, abrindo novas vias que, em pouco tempo, acabam tão intransitáveis quanto aquelas às quais elas tinham, originalmente, a intenção de imprimir maior fluidez.
Transportes coletivos de alta qualidade, financiamento a habitações populares e, ao mesmo tempo, contenção do espalhamento geográfico das cidades, são os três vetores fundamentais para um ambiente urbano capaz de propiciar desenvolvimento a seus habitantes.
Apesar da profundidade do diagnóstico e da criatividade das propostas para enfrentar os problemas urbanos brasileiros, o texto da CNI deixa de levantar justamente a questão central que Bill Ford e os participantes do evento da Audi discutem: continuar aumentando a produção de automóveis individuais, será isso coerente com a inversão das prioridades do planejamento urbano em direção atransportes coletivos de alta qualidade?
O documento faz propostas interessantes à atuação do poder público para ampliar a mobilidade. Mas não é admissível que, diante de constatações tão ricas e bem fundamentadas, as atividades das montadoras sigam de vento em popa, com vasto apoio governamental, como se elas nada tivessem a ver com ocolapso das cidades que o estudo de sua representante maior, a CNI, denuncia.
Foto: Keng Susumpow / Creative Commons
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